segunda-feira, 21 de novembro de 2011
O DESABAFO DE UM NEGRO SOLITÁRIODESABAFO DE UM NEGRO SOLITARIO Tudo começou por uma delegação de poder Onde de repente, alguém passou a me dizer. Você não tem mais direito de viver. Se escolheres viver tu terás que morrer ... Que tipo de morte seria essa Se em toda minha vida aprendi que nunca morreria tão depressa. Construí minha sabedoria através da oralidade da magia Magia que em outros mundos não era compreendida, mais sim por eles desmerecida. Os ritos as festas as danças os transes as bebidas, almas desinibidas. Tudo isso fica agora, pois alguém me diz que chegou minha hora. Do azul celeste do mar, percebo algo sombrio se aproximar, será que alguém pode me dizer o que está para acontecer. Dentro de mim minha alma diz que estou perto de morrer Navios negreiros, são brasileiros! São estrangeiros! Nada importa agora, pois chegou a minha hora. Meu coração bate mais forte, se aproxima a tão inesperada morte, rumo ao sul, rumo ao norte, não sei se sobrevivo a esse tão terrível castigo. Demonstro por um momento que sou forte, e não temo a morte, mais vejo ao meu lado gemidos africanos, afligidos, qual seria o motivo? Fúteis talvez, não sei. Sei que alguém dizia, eles não têm alma não tem vida, são coisas, falam mais não pensam, choram mais não sentem, Oh! Navio negreiro quem te batizou com esse nome tão sombrio, teu interior cheira a morte, qual será nossa sorte? Do outro lado do mundo estou agora, o que me espera? minha mente se é que tenho, não pensa mais em nada a não ser voltar para casa, que casa, estou morto, só precisam do meu corpo. Violentado agora pelo azorrague do terror, inserido na senzala, percebo o nascer de uma flor. Que me da esperança de reviver, de renascer em meio ao sofrimento, cada chicotada que levei na senzala uma flor eu plantei, reguei com meu próprio sangue, suor e lagrima, para que ali ela fosse enraizada. Uma raiz da África que crescia e se estabelecia, desenvolvia em volto de uma nova magia, a da esperança do nascer de nossas crianças, envolvidas por nossos costumes e crenças entendiam as nossas diferenças. Diferença imposta pela cor branca, que simbolizava para eles a paz. Que paz ? Paz que roubaram de nós toda nossa voz. Enfim sobrevivi a todas essas tempestades até chegar o momento da liberdade. Liberdade que foi paga a preço de sangue, com nosso sangue. Hoje sou livre? Não tenho tanta certeza, sei que tenho muitas incertezas, recebi minha alforria, não sabia o que dizia, eu não era cidadão, o que ser então, negro bandido, negro da rua, negro de casa, que casa, negro do morro, da favela, negro da senzala, ali eu fui alguém, minha ideologia e identidade foram aceitas, aqui fora essa sociedade abolicionista me rejeita, não posso estudar, não posso estar, não posso trabalhar, o que ser então? Defino que sou africano de coração e brasileiro cidadão, responsável por mim mesmo, crio novos desafios, ando de cabeça erguida, já não tenho medo da vida. Natalino Gaspar Filho Belford Roxo – 02 de Outubro de 2011
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